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segunda-feira, 24 de junho de 2013

Estamos próximos do fim das disciplinas escolares?


São cada vez mais fortes os comentários de que o MEC está preparando uma reforma educacional, via ENEM, de maneira a diminuir o número de disciplinas científicas, sob o pretexto de falta de professores. Mais um indício se apresenta agora, com um pedido de entrevista do Jornal da Ciência, um órgão da SBPC. Como a matéria mais visitada deste blog nos últimos dias foi a reforma da LDBEN, em início de abril, cabe aqui mais esta postagem. 
Abaixo a íntegra da entrevista, feita por e-mail para a jornalista Edna Ferreira, daquele veículo, no dia de hoje:


"- Considerando sua experiência na área de Metodologia do Ensino e Educação, como o Sr. avalia o currículo do MEC, que é considerado por muitos educadores uma “camisa de força”?

Na verdade, a única "camisa de força" curricular do MEC atende pelo nome de "Objetos de Conhecimento" da matriz do ENEM. A política gestada e posta em prática em 1997-8, de unificação curricular por meio da pressão de exames, teve pleno êxito apenas nos últimos anos. Hoje 7,1 milhões de jovens devem estudar uma lista extensa de conteúdos conceituais para disputar as pouco mais de 130.000 vagas oferecidas no sistema federal de ensino. Os 7 milhões de jovens que não tiverem sucesso se perguntarão qual a razão de terem estudado "Neoplasias e a influência de fatores ambientais", por exemplo, conforme consta no edital do ENEM 2013. Vejo aí um contingente nada desprezível sendo chamado às ruas...

 - Qual o objetivo da educação “formal”?  O currículo atual prepara pessoas capazes de tomar as próprias decisões?

Evidentemente que ao estudar "neoplasias e a influência de fatores ambientais" no ensino médio não se estará preparando os jovens para nenhuma decisão, uma vez que não faz sentido se dedicar a um assunto tão específico, sem uma base conceitual anterior. Esse exemplo torna evidente que a educação escolar, dita formal, precisa buscar contextos próximos dos estudantes, tomando o ensino médio como base para a preparação para a vida, tendo o trabalho como princípio educativo. Isso não significa que a educação deva ser obrigatoriamente profissionalizante.


 - Qual seria o aprendizado básico e necessário para se viver?

A organização federativa brasileira conferiu autonomia na esfera da educação aos entes federativos desde o Império. Muitas escolas ainda não sabem que podem exercer sua autonomia, nos termos da lei, e definir seu próprio currículo, a depender do que seja necessário para viver em diferentes locais desse nosso enorme país. Uma escola do interior de Rondônia não precisa ter o mesmo currículo de uma escola do litoral.


 - O Sr concorda com a ideia de se dividir o Ensino Médio em 3 grandes áreas, como Exatas, Biológicas e Humanas?

Não creio que seja possível formar um professor em ciências naturais e suas tecnologias. Sou veementemente contrário à idéia de agrupar disciplinas de quaisquer formas, sob o pretexto de que faltam professores. Seria o equivalente de decidir que os hospitais públicos não mais tratarão fraturas, por falta de ortopedistas. O discurso interdisciplinar não dispensa as disciplinas, muito ao contrário!


O que acha do anúncio feito pelo MEC, sobre a Base Nacional Comum?

- Na verdade, isso está definido na própria Constituição Federal de 1988 e nunca foi implementado. Deve-se atentar para conteúdos realmente básicos, definindo-se afinal o que deve ser visto em cada ano, uma vez que os sistemas de avaliação não podem monitorar a progressão da avaliação sem a referência dos conteúdos. As avaliações seriadas de alunos do ensino médio, promovidas por diversas universidades, devem igualmente se ajustar a uma Base Nacional Comum. Isso não impede que cada escola decida sobre o restante de seu currículo e exercite sua autonomia.

PS.: Agradeço o amigo Nelson Studart ao apontar meu equívoco ao citar "objetos de aprendizagem" do edital do ENEM, em lugar de "Objetos de Conhecimento". A correção está feita nesta matéria, ma infelizmente saiu assim na matéria do JC.

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