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sábado, 23 de novembro de 2013

Enfoque evolutivo estará no currículo de Biologia do ensino médio do Texas


Ontem foi um dia muito especial em Dallas, no Texas. Todo o país ficou focalizado naquela curva, em frente a um antigo depósito de livros didáticos, no sexto andar de um prédio de tijolos aparentes, onde corais cantavam de maneira emocionada os cinquenta anos da morte de JF Kennedy.

Visitei o local há alguns anos e me emocionei. Transformado em um museu, é ponto de visitação obrigatório na cidade. Em frente `a janela de onde saíram os tiros, o local está rigorosamente como naquele dia, cinquenta anos atrás, com as caixas de livros didáticos. Nas outras salas, um pouco da história daquele presidente, que esteve `a frente de um país já muito poderoso, quando quase foi detonada uma guerra nuclear.

Naquele mesmo dia, morria aos 69 anos Aldous Huxley,  em Los Angeles. Escritor inglês famoso, deixou uma obra impressionante, assim como seu avô, Thomas Huxley, o “buldogue de Darwin”, que chegou a conhecê-lo em seu primeiro ano de vida, e Julian Huxley, seu irmão, um dos pilares da síntese moderna da evolução e atuante político (foi um dos fundadores da UNESCO).

Essa triste coincidência deixou marcas no dia de ontem, exatos cinquenta anos depois, quando obviamente muito se falou de JFK e, pelo menos que eu saiba, ninguém se lembrou do autor de Adorável Mundo Novo e (meu preferido) Sem Olhos em Gaza (ambos disponíveis em língua portuguesa). O livro, diga-se de passagem, nada fala de Gaza, mas compara a falta de visão de heróis da antiguidade e de sua época, tratando dos fanatismos e do fundamentalismo religioso, comparando sua cegueira pessoal (ele tinha baixa visão) com a provocada pelos extremismos.

Os livros didáticos do Texas foram lembrados ontem não apenas naquele depósito do sexto andar.

Uma estranha coincidência cósmica se concentrou em Dallas, Texas, ontem, ligando os temas dos Huxley, livros didáticos, e a crença na construção de um mundo livre da cegueira dos fanatismos. Ela surpreenderia o clã Huxley e todos os que lutam contra o obscurantismo anticientífico. Ao lado das celebrações da efeméride comovente, o Conselho de Educação do Texas divulgava, na mesma Dallas, a decisão de aprovar, pela primeira vez na história, livros didáticos de Biologia que não abordam o criacionismo e o design inteligente, e apresentam a evolução biológica como uma das bases da ciência moderna.

As editoras estadunidenses, que tradicionalmente preparavam edições especiais para estados sulistas, evitando temas como reprodução humana, sexo, evolução biológica, e até mesmo mudanças climáticas globais, desta vez resolveram seguir as orientações da maioria dos estados americanos – e do mundo! - incorporando esses assuntos ao currículo de Biologia. Eles se recusaram a promover os cortes que já tinham se acostumado a fazer no passado. Mas isso, hoje, se tornou quase impossível, pois os livros modernos de Biologia de todo o mundo não restringem a abordagem evolutiva a um único capítulo, como antigamente (no Brasil era geralmente o último!).

A decisão terá repercussão pelos próximos dez anos, enquanto os livros circularem, e certamente além, pois não é possível entender o mundo moderno sem entender a Biologia de nossos dias. Ao mesmo tempo, essa decisão traz ânimo a todos os que lutam em favor do crescente esclarecimento humano, contra os fundamentalismos que turvam a visão humana.

Aldous Huxley enxergou longe!


Para mais informações (copie e cole em seu navegador):

http://blogs.dallasobserver.com/unfairpark/2013/11/creationists_fear_defeat_in_th.php

http://www.dallasobserver.com/2013-11-14/news/creationists-last-stand-at-the-state-board-of-education/

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